Quaresma, um convite especial

Entramos na Quaresma, ouvindo um convite especial do Senhor: “Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós”.
Convite feito na Quarta-feira de Cinzas para a festa da Vigília Pas­cal, no Sábado Santo, na celebração solene e bela da Páscoa, memória da nossa fé, centro do ano litúrgico e da história da humanidade.


Jesus ressuscitou “no primeiro dia da semana” (Mt 28,1). As primei­ras comunidades começaram a reunir-se todas as semanas para festejar a vitória de Jesus sobre a morte, no domingo. Um dia depois do sábado, observado pelos judeus como dia de descanso e celebração.
Ainda bem no começo, os cristãos sentiram a necessidade de solenizar de maneira muito especial o acontecimento que mudou os rumos da história. Decidiram fazer, uma vez por ano, uma gran­de festa, com cuidadosa preparação, para celebrar intensamente a Páscoa de Jesus Cristo. A maior de todas as festas, a Festa das festas, o Domingo dos domingos.
Toda festa que se preze merece uma boa e prolongada prepa­ração. Não podia ser diferente a preparação da festa da Páscoa. São quarenta dias que, com o tempo, receberam o nome de Quaresma.
Quaresma como caminho para a festa, preparada no coração, através da oração, do jejum e da caridade. Quaresma como tempo de conversão e entrada na prática e na solidariedade de Jesus. Não é um tempo de luto ou tristeza, mas de intensa expectativa e inteli­gente concentração para viver gostosa e intensamente as alegrias da Ressurreição do Senhor.
O convite é renovado hoje a toda a comunidade dos batizados:
Convertei-vos! A festa da Páscoa se aproxima. O Reino de Deus está no meio de vós.

Em que consiste a preparação para a Páscoa?

Desde os tempos mais antigos a Quaresma foi considerada como um tempo de renovação espiritual, de revigoramento das promessas do Batismo e fortalecimento interior para o testemunho do evangelho. Isso através de três práticas muito significativas: a oração, a luta contra o mal e o jejum.
A oração como experiência de fé e gratuidade para pedir a Deus forças e convertermo-nos, para viver o evangelho e permanecer no bom caminho.
A luta contra o mal como espaço privilegiado de exercício para dominar as paixões, vencer o egoísmo e cultivar o bem.
O jejum como expressão do seguimento do Mestre que exige abandono de nós mesmos e doação aos irmãos. O jejum centra-se na partilha de bens: “Nós vos prescrevemos o jejum, lembrando-vos não só a abstinência, mas também as obras de misericórdia. Desse modo, o que tiverdes economizado nos gastos normais, se transforme em ali­mento para os pobres” (São Leão Magno).
Tudo isso para fazermos da Quaresma uma verdadeira participação no mistério pascal de Cristo. Sofremos com Cristo para participar de sua glória e sentir, na vida, a alegria de sua Ressurreição (cf. Rm 8,17).

Quaresma, memória do batismo

O grande liturgista Bergamini diz que “a Quaresma tem caráter essencialmente batismal, sobre o qual se baseia o caráter penitencial. Na verdade, a Igreja é comunidade pascal porque é batismal. Isso deve ser afirmado não só no sentido de que nela entramos mediante o Batismo, mas, sobre­tudo, no sentido de que a igreja é chamada a exprimir com vida de contí­nua conversão o sacramento que a gera. Daí também o caráter eclesial da Quaresma. Ela é o tempo da grande convocação de todo o povo de Deus, para que se deixe purificar e santificar pelo seu salvador e Senhor”.
Essa afirmação de Bergamini nos mostra a ligação da Quaresma com o Batismo. Neste tempo, intensificam-se a preparação dos catecúmenos com a catequese e as celebrações diárias ou semanais com um itinerário pedagógico e catequético, objetivando ajudar o catequizando a penetrar nos grandes eventos da história da salvação.
Para os batizados, o tempo da Quaresma é sempre uma nova opor­tunidade de recolocar a vida nos trilhos da Salvação e renovar a aliança batismal. Tempo de conversão, de aprofundamento da fé e um processo de crescimento na vida comunitária.

O que é a Quaresma na vida do cristão?

Irmã Penha Carpanedo e Pe. Marcelo Guimarães têm uma explica­ção primorosa. Escrevem: “Celebrar a Quaresma é festejar o refazer a aliança de Deus com a gente e que o nosso pecado e nossa negligência romperam. É renunciar aos nossos instintos egoístas e abrir-nos mais ao plano do Deus da vida. Celebrar a Quaresma é intensificar a oração, o jejum e a caridade, para vivermos mais consagrados ao Deus que nos reconciliou com ele. Celebrar a Quaresma é deixar-se conduzir ao deserto, para que o Senhor nos fale ao coração. É rever as linhas de con­duta, corrigir os erros de trajetória, aprofundar a unidade entre nós. É assumir e reconhecer o negativo, a morte, o sofrimento, para vencê-los e superá-los. Como o grão de trigo que morre para nascer. Como a mu­lher que está para dar à luz e sofre as dores do parto. Como a uva que se esmaga para fazer o vinho que alegra o nosso coração”.

Quaresma é:

- Tempo abençoado e privilegiado na vida da Igreja de conversão, purificação e glorificação do Senhor.
- Tempo de abrir o coração para a novidade do evangelho, tendo como centro a cruz de Cristo, sinal de salvação e reconciliação da humanidade.
- Tempo de renovação da aliança, de revitalização das promessas do Batismo e inserção consciente na comunidade.
- Tempo de envolver-se de corpo e alma na libertação das pessoas excluídas e oprimidas, vítimas de tanta corrupção, violência e descasos com a vida.
- Tempo de abandonar os ídolos e de renovar a nossa fidelidade ao Deus de Jesus Cristo por meio da escuta da Palavra e da oração.
- Tempo único e precioso de subir com Jesus ao monte Tabor, de viver na intimidade com Ele, de conhecer seus desígnios.
- Tempo de nos deixarmos acolher e tocar pela misericórdia do Senhor.
-Tempo de ressuscitarmos com Cristo e nos colocarmos a serviço de seu Reino.